“Anton”, um livro de Simão Vieira, da editora Trinta Por Uma Linha, fala da relação com o mundo e com os outros, assunto de todos os dias e, também, da literatura para o público infanto-juvenil. Todos crescemos resistindo à oposição dos outros, são eles que definem o espaço da nossa identidade, ora na relação que estabelecemos ora na que recusamos.
Simão Vieira, sabe a que vai e para onde quer ir, tomou nas mãos a responsabilidade da comunicação do pensamento no empenho conjunto da palavra e da imagem. As ilustrações são singulares e uma boa surpresa. Num mundo compartimentado onde temos a tentação de colocar cada um a fazer sua coisa há quem se desdobre com talento numa multiplicidade de expressões.
Todos os que já assistiram a alguma das muitas peças de teatro que Simão Vieira escreve e encena sabem que ele é arquitecto de palavras, fonte inesgotável de ideias, capaz de defender com veemência aquilo em que acredita e capaz da duvida metódica sobre o seu trabalho, um incansável perfeccionista. Sendo professor de Filosofia não poderia ser diferente…
Este seu primeiro livro é para os meninos que estranham a diferença, para todos nós que tantas vezes não sabemos promover espaço de encontro, para os que acham os números um território árduo, para os que os dissociam das palavras, afinal, contamos com eles e com elas sempre que contamos. Contamos com os outros sempre que resolvemos problemas, simples problemas de contas ou problemas de vida. Os números criam um espaço de entendimento comum, para além de diferenças linguísticas.
Anton é um menino vindo de outro país. Vemo-lo frente ao espelho estranhando o nome na sonoridade da nova língua. É uma criança curiosa. Ouvimo-lo perguntar: “Não achas estranho usares as mesmas letras para dizeres ‘tu’ e o princípio de ‘tudo’?”. Ouvimos um amigo traduzir a estranheza sobre a sua pele e cabelos claros como “transparência de água”: “Na chuva tenho de te adivinhar”. Vindo de outra latitude outro menino poderia ouvir algo parecido e terno: na noite tenho de te adivinhar…
“Anton” é um livro que pode ser lido em silêncio ou em voz alta. A leitura em voz alta é um os múltiplos testes que se podem impor a um livro. Alguns, sem que isso seja um defeito, não nasceram para alta voz. Outros não têm estatura para assim ser lidos, “Anton” sim, é prosa com poesia, com musicalidade, jogo de palavras. Numa palavra literatura.
As crianças não podem ser tratadas como tontas. As histórias que contamos não devem ser doce breve que mal colocado na boca logo desaparece não deixando sabor nem substância. “Anton” deixa espaço para reflectir e procurar o que está por detrás das palavras. Os leitores terão muitos pontos de partida. Os livros são sempre pontos de partida. Os pontos de chegada estão dentro de cada um.
E como cada um de nós, venha de onde vier, fale a língua que falar, faça contas à vida ou deixe que a vida o gaste sem contar, tem como desígnio legítimo a felicidade, o reconhecimento no outro e do outro, este é um livro feliz. Dedicado a pessoas importantes: mãe Luísa, pai Ventura, irmã e a um lema de vida: “Podemos não encontrar tudo mas a busca também é válida para o impossível.”
Os livros têm de se anunciados, merecem isso os bons livros, os que são capazes de dizer como diz o Anton: “Tu podes contar sempre comigo.”
Sílvia Alves (REGIÃO DE LEIRIA, 23 de Janeiro de 2009)
Simão Vieira, sabe a que vai e para onde quer ir, tomou nas mãos a responsabilidade da comunicação do pensamento no empenho conjunto da palavra e da imagem. As ilustrações são singulares e uma boa surpresa. Num mundo compartimentado onde temos a tentação de colocar cada um a fazer sua coisa há quem se desdobre com talento numa multiplicidade de expressões.
Todos os que já assistiram a alguma das muitas peças de teatro que Simão Vieira escreve e encena sabem que ele é arquitecto de palavras, fonte inesgotável de ideias, capaz de defender com veemência aquilo em que acredita e capaz da duvida metódica sobre o seu trabalho, um incansável perfeccionista. Sendo professor de Filosofia não poderia ser diferente…
Este seu primeiro livro é para os meninos que estranham a diferença, para todos nós que tantas vezes não sabemos promover espaço de encontro, para os que acham os números um território árduo, para os que os dissociam das palavras, afinal, contamos com eles e com elas sempre que contamos. Contamos com os outros sempre que resolvemos problemas, simples problemas de contas ou problemas de vida. Os números criam um espaço de entendimento comum, para além de diferenças linguísticas.
Anton é um menino vindo de outro país. Vemo-lo frente ao espelho estranhando o nome na sonoridade da nova língua. É uma criança curiosa. Ouvimo-lo perguntar: “Não achas estranho usares as mesmas letras para dizeres ‘tu’ e o princípio de ‘tudo’?”. Ouvimos um amigo traduzir a estranheza sobre a sua pele e cabelos claros como “transparência de água”: “Na chuva tenho de te adivinhar”. Vindo de outra latitude outro menino poderia ouvir algo parecido e terno: na noite tenho de te adivinhar…
“Anton” é um livro que pode ser lido em silêncio ou em voz alta. A leitura em voz alta é um os múltiplos testes que se podem impor a um livro. Alguns, sem que isso seja um defeito, não nasceram para alta voz. Outros não têm estatura para assim ser lidos, “Anton” sim, é prosa com poesia, com musicalidade, jogo de palavras. Numa palavra literatura.
As crianças não podem ser tratadas como tontas. As histórias que contamos não devem ser doce breve que mal colocado na boca logo desaparece não deixando sabor nem substância. “Anton” deixa espaço para reflectir e procurar o que está por detrás das palavras. Os leitores terão muitos pontos de partida. Os livros são sempre pontos de partida. Os pontos de chegada estão dentro de cada um.
E como cada um de nós, venha de onde vier, fale a língua que falar, faça contas à vida ou deixe que a vida o gaste sem contar, tem como desígnio legítimo a felicidade, o reconhecimento no outro e do outro, este é um livro feliz. Dedicado a pessoas importantes: mãe Luísa, pai Ventura, irmã e a um lema de vida: “Podemos não encontrar tudo mas a busca também é válida para o impossível.”
Os livros têm de se anunciados, merecem isso os bons livros, os que são capazes de dizer como diz o Anton: “Tu podes contar sempre comigo.”
Sílvia Alves (REGIÃO DE LEIRIA, 23 de Janeiro de 2009)