Muitos foram os amigos que, carinhosamente, quiseram partilhar este momento poético. Nas palavras do apresentador, João Manuel Ribeiro, ”uma leitura da pequena (já grande) obra da autora, permite-nos inferir algumas notas gerais que consideramos distintivas: o gosto pela leitura e pela promoção da mesma; a paixão pelo contar e recontar de histórias; a necessidade da relação criadora e criativa com a língua. Dito isto, diremos que em Maria Helena Pires mora o bichinho da poesia, esse vírus em que “a emoção encontra o seu pensamento e o pensamento encontra as palavras (Robert Frost) e contamina poeta e leitor com “o melhor uso das palavras para dizer mais do que as palavras podem dizer (Marvin Bell), no exercício consciente de “criação rítmica da beleza em palavras (Edgar Allan Poe)”.
Consciente ou não, a escrita e a poesia de MHP reflectem preocupações literárias e pedagógicas, possibilitando a aprendizagem das estruturas narrativas e poéticas e a socialização cultural, seja pela estrutura claramente lúdica de muitos textos, seja pelo tratamento reiterado da leitura como actividade existencial fundamental. Do ponto de vista formal, o refrão e a rima ocupam um lugar central, dando aos textos um ritmo vivo e cadenciado, tão ao gosto do ouvido dos mais pequenos. Anote-se, entretanto que da rima, nesta obra, pode-se aplicar o que escreve Teresa Guedes a propósito da magia da rima, ou seja, neste livro, a rima faz tilintar “mas há versos brancos, / que de tão claros, nos deixam livres / para exprimir as ideias sem as cintar”.
Os recursos estilísticos mais evidentes neste livro, para além da personificação de objectos, caracteres e conceitos são a anáfora e a reduplicação.
Como refere Gabriela Sotto Mayor, os poemas deste livro “tiram partido da plasticidade que caracteriza a linguagem explorando as suas dimensões sonora e lúdica. Apresentam combinações semânticas e lexicais, fónicas, rítmicas e melódicas, sendo algumas de clara inspiração em cantigas tradicionais, característica que poderá contribuir para cativar os leitores menos experientes e até estimulá-los à leitura e à iniciação à escrita, sendo que a linguagem visual da autoria de Elisabete Ferreira responde à dimensão sonora e rítmica presente nos poemas, desenhando alguns objectos e caracteres sugeridos neste, assim como insinua outras leituras”.
Uma palavra conclusiva, num duplo sentido: primeiro, o reconhecimento público e oficial que os livros de MHP granjearam por parte da Casa da Leitura e que reiteram e garantem a qualidade dos mesmos; segundo, para chamar a atenção para a prateleira em que a Casa da Leitura colocou este livro: leitores iniciais. Ou seja, segundo os especialistas, os mais pequenos do Jardim de Infância e do 1.º Ciclo são os destinatários alvo destes poemas. Para nós, isto significa (felizmente) que nos temos de deixar de tretas e tornarmo-nos crianças no sentido são do termo”.