terça-feira, 25 de outubro de 2011

MEU REINO POR UM CAVALO NO SEMANÁRIO «GRANDE PORTO»

Duarte Pinheiro, docente do Instituto Camões em Itália, escreveu no passado dia 21, no Semanário «Grande Porto» o seguinte sobre o livro «Meu Reino por um cavalo» de António Ferra e ilustrações de Rui Castro:

O cavalo de Ricardo III

«Embora a história de Ricardo III da Inglaterra tenha inspirado muitas vezes a literatura, em concreto, aquela infantil, os poemas de Meu Reino por Um Cavalo (título inspirado na frase shakespeariana de Ricardo III) de António Ferra têm pouco de cultura inglesa e muito de poesia portuguesa. O poeta parte de versos de outros poetas portugueses para elaborar “rimas traquinas”. O resultado é um diálogo intraliterário de teor fortemente didático. Por exemplo: da arte de Emanuel Félix “traziam a manhã/cada manhã/ o cheiro do pão fresco da humidade da terra” António Ferra glosa: “Mastigavam o pão branquinho/ vindo do supermercado/ de todo o mundo e ninguém/sem ninguém saber a origem/ que ele traz da terra-mãe// (...) Comendo a forma às fatias/ não sabiam que a terra/ dava o trigo e o centeio/ que depois era ceifado/ c’uma história pelo meio”. O autor podia ter ido ainda mais longe neste seu diálogo intertextual? Podia, veja-se o verso “de todo o mundo e ninguém”, por sua vez, extraído do Auto da Lusitânia de Gil Vicente. A poesia vive de palavras transformadas em imagens e, nesse sentido, a ambição do autor podia ter sido outra. Mas este trabalho é já de si uma novidade. Um apêndice com informações biográficas dos poetas referenciados e as bonitas e geométricas ilustrações de Rui Castro completam uma edição cuidada, fruto de um dos mais aliciantes projetos editoriais portuenses no âmbito da literatura infantil e juvenil: Trinta Por Uma Linha.»