Duarte Pinheiro, docente do Instituto Camões em Itália, escreveu no Semanário Grande Porto, do passado dia 18, sobre o livro «O Mosteiro de Santa Maria de Salzedas: as formigas, o gaio e as pedras» de José Jorge Letria (texto) e Elsa Lé (ilustrações).
A construção do Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, em Tarouca, é a(s) história(s) desta narrativa. Na verdade, trata-se de uma narrativa por encaixe, ou como nos refere o narrador “uma história que vamos contar dentro de uma outra história, como se de um livro coubesse outro livro e dentro de uma memória outra memória, como acontece, por exemplo, com as bonecas russas chamadas matrioskas (...)”. A primeira história relaciona-se com a localização do mosteiro, para a qual contribuíram “um exército de formigas”, um “belo gaio” e “pedras”. Essa é de cariz infantil e, através de uma linguagem simples, invoca aspetos lúdicos. Por outro lado, a segunda história, a qual narra a construção deste mosteiro da Ordem de Cister, que se ergueu por vontade D. Afonso Henriques e D. Teresa Afonso, insere-se no âmbito da lenda e da História, e a linguagem aí usada é, não obstante os esforços do autor em sentido contrário, bem mais complexa e técnica, com um resultado/intenção diferente daquela anterior: “É entre finais do século XVI e o princípio do século seguinte que o mosteiro passa a ter mais um novo claustro de estilo maneirista e duas novas alas” (...) “Já perto do século XIX, a igreja do mosteiro passou a ter uma nova capela-mor retangular e capelas laterais quadrangulares, que muito vieram contribuir para a sua beleza arquitetónica”. As formigas e o gaio da primeira história ‘reaparecem’ nesta e unem as duas histórias. As divertidas e auto-irónicas ilustrações de Elsa Lé (veja-se, por exemplo, o seu autorretrato com José Jorge Letria na última ilustração do livro), em tons de rosa e azul pastéis, complementam a narrativa, que tem corpo numa encantadora e primorosa edição brochada.