sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
APRESENTAÇÃO DE O SEGREDO DA MOURA
A Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim acolheu, na passada sexta-feira, a sessão de lançamento do livro O segredo da Moura, de Gisela Silva e ilustrações de Teresa Lares. A apresentação da obra de literatura infanto-juvenil realizou-se em ambiente de festa contando com vários momentos musicais.
"Escrito por Gisela Silva e ilustrado por Teresa Lares, o livro foi publicado pela editora Trinta Por Uma Linha e narra a história de “uma belíssima princesa moura, amada por todos e reconhecida como a bela Senhora do Lanhoso”.
A escritora e professora de Língua Portuguesa manifestou a sua emoção e contentamento pela obra publicada e revelou estar a “maravilhar-me com este mundo de magia que é o infanto-juvenil”. Gisela Silva justificou o seu gosto pela leitura e pela escrita “graças à minha mãe que arranjava sempre tempo para me dar colo, o colo das histórias”. E foi precisamente nessas histórias do património histórico-cultural e mítico-simbólico que a autora encontrou a inspiração para o livro sobre uma moura, figura de excelência dos contos que a mãe lhe contava. E dirigindo-se ao público infanto-juvenil Gisela Silva disse “leiam muito. Peçam o colo das histórias porque é infinito.”.
“Espero que esta overdose de cor vos encante e vos transporte para o texto da Gisela”, afirmou Teresa Lares confessando que a ilustração de O segredo da Moura foi uma responsabilidade muito grande. A professora de Educação Visual e Tecnológica informou que utilizou a técnica de colagem e procurou que “as ilustrações tenham vida própria e contem uma história”. [Texto extraído do Portal Municipal]
"Escrito por Gisela Silva e ilustrado por Teresa Lares, o livro foi publicado pela editora Trinta Por Uma Linha e narra a história de “uma belíssima princesa moura, amada por todos e reconhecida como a bela Senhora do Lanhoso”.
A escritora e professora de Língua Portuguesa manifestou a sua emoção e contentamento pela obra publicada e revelou estar a “maravilhar-me com este mundo de magia que é o infanto-juvenil”. Gisela Silva justificou o seu gosto pela leitura e pela escrita “graças à minha mãe que arranjava sempre tempo para me dar colo, o colo das histórias”. E foi precisamente nessas histórias do património histórico-cultural e mítico-simbólico que a autora encontrou a inspiração para o livro sobre uma moura, figura de excelência dos contos que a mãe lhe contava. E dirigindo-se ao público infanto-juvenil Gisela Silva disse “leiam muito. Peçam o colo das histórias porque é infinito.”.
“Espero que esta overdose de cor vos encante e vos transporte para o texto da Gisela”, afirmou Teresa Lares confessando que a ilustração de O segredo da Moura foi uma responsabilidade muito grande. A professora de Educação Visual e Tecnológica informou que utilizou a técnica de colagem e procurou que “as ilustrações tenham vida própria e contem uma história”. [Texto extraído do Portal Municipal]
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
MEU AVÔ, REI DE COISA POUCA
No passado dia 05 de Fevereiro, a Livraria Papa-Livros acolheu a apresentação do livro "Meu Avô, Rei de Coisa Pouca" de João Manuel Ribeiro e ilustrações de Catarina Pinto. O livro foi apresentado pela Doutora Sara Reis da Silva. Dessa apresentação, destacamos os excertos que se seguem:
"A obra Meu Avô, Rei de Coisa Pouca, como o título faz prever, centra-se numa figura cujo retrato começa a desenhar-se, directa e indirectamente, logo na abertura da narrativa ou no incipit: «A casa da eira era o palácio do avô. Nela tinha o seu trono, guardava a sua coroa e retinha os seus tesouros. Na verdade, era apenas um espigueiro antigo de granito. Mas não era o palácio que o tornava rei, era a sua condição de senhor de terras e céus, bichos e chuvas, ventos e aragens, romãs e bonecas de trigo. (...) De aspecto, o avô nada tinha de parecido com um rei. Era um homem simples, afeito ao trabalho, que se dividia entre a metalurgia e a agricultura, alto, ombros largos, cara de anjo papudo, com sulcos que o tempo foi esgravatando, mãos enormes, pés firmes.» (Ribeiro, 2011: 9). A metáfora anunciada pelo título prolonga-se ao longo de todo o relato e inúmeras associações transfiguradoras do protagonista a um rei acompanham também identificações como, por exemplo, casa da eira-palácio ou bicicleta-cavalo alado. Estas associações estendem-se ao discurso visual da publicação, da autoria de Catarina Pinto, e este, composto a partir de uma técnica mista (recorte, colagem, fotografia, etc.), cria a ilusão de diferentes texturas e perspectivas. Logo desde a capa e contracapa (que formam uma unidade semântica e que, pela representação, não isenta de uma significativa carga simbólica, de uma árvore e do herói da narrativa determinam um especial «horizonte de expectativas»), passando pelas guardas da publicação, até às imagens do miolo do volume, as ilustrações dão conta do carácter maravilhoso de certos momentos diegéticos, da forte presença do elementos naturalistas, da profunda ligação afectiva entre as personagens e do tratamento de temáticas intemporais.
Dos títulos dos nove capítulos que compõem a obra – «O cavalo alado», «O tamanho do reino», «A romãzeira e a menina», «O baile das bonecas de trigo», «O amigo da bicharada», «O mapa dos segredos» «O rio da vida», «Os últimos dias» e «Os idos dias que hão-de vir» –, bem como das ilustrações em páginas duplas que antecedem cada um deles, sobrelevam alguns dos topoi e dos aspectos simbólicos mais importantes da narrativa e, se fosse imprescindível a identificação de um leitmotiv da obra, diria que este possui uma dupla acepção, partilhando o ser humano e a natureza (e o seus ciclos) o lugar central. Com efeito, o homem impregnado de natureza e a natureza espelho do homem (numa relação de simbiose, por vezes, de contornos telúricos) afiguram-se os pilares que sustentam quer a (re)construção ficcional do avô João, quer a própria arquitectura do espaço, nas suas dimensões física, psicológica e social.
O amor, que «serve para temperar todas as coisas» (idem, ibidem: 21), como se diz no texto, o amor aqui dado a conhecer em múltiplas vertentes – o amor do neto pelo avô, o amor do rei-avô pela sua rainha ou o amor à natureza, à terra-mãe ou «às coisas simples e pequenas» (idem, ibidem) –, releva da totalidade da obra, distinguindo-se como um dos eixos semânticos estruturantes da acção. O tom sentencioso e o carácter lapidar de certas expressões, mais recorrentes e evidentes à medida que a acção se aproxima do desenlace, denunciam uma especial atitude filosófica e existencial, em alguns momentos, muito próxima de correntes clássicas como o epicurismo – «A aceitação de que a vida é o que é, e assim é que é (...)» (idem, ibidem: 76) –, propondo-se, a cada instante, uma reflexão sobre a vida e a sua passagem, sobre a morte, sobre o tempo, sobre a memória, entre outros.
Referências histórico-culturais e literárias – estas últimas reflectidas, por vezes, na alusão a textos ou a partes de textos da literatura tradicional/oral) – perpassam toda a obra (Batalha de La Lys e a Primeira Guerra Mundial, Pégaso, a Bíblia, Federico Garcia Lorca, a ilha dos amores ou Alberto Caeiro), a par da presença significativa de vivências, costumes e hábitos do quotidiano rural (como, por exemplo, a desfolhada, motivo nuclear do capítulo intitulado «O baile das bonecas de trigo»), estimulam a leitura e promovem um convívio com uma cultura que reúne o universal e o local, o colectivo e o individual ou, ainda, o passado e o presente.
A criatividade da linguagem de João Manuel Ribeiro traduz-se, por exemplo, nas enumerações de elementos da natureza, descritos num registo que dá conta da visão sensorial do autor/narrador. Na verdade, a adjectivação abundante e as recorrentes metáforas contribuem para um descritivismo especial, que explora as potencialidades semânticas de um sensorialismo e/ou de um visualismo muito envolventes. Globalmente, Meu Avô Rei de Coisa Pouca caracteriza-se pela sua escrita bem ritmada – releia-se a afirmação «O ritmo que ponho em cada história que escrevo levanta-se de um baile com bonecas de trigo» (idem, ibidem: 76) –, com uma cadência própria, que desvela, com delicadeza e discrição, uma singular percepção do mundo, da vida, do eu e dos outros. Estas e outras características, que o espaço e o tempo desta intervenção não permitem questionar, mas que, no texto, surgem sintetizadas na expressão «jeito de tricotar paisagens com palavras e versos» (idem, ibidem: 76), podem ser comprovadas em excertos como o seguinte: «E deixei-me arrastar pelo corpo tenor de uma após outra boneca de trigo, que se agitavam agilmente, numa ronda de passos, gestos e sorrisos. E se a música nos acelerava, o rodopio era intenso, ao redor do corpo de cada boneca, ora permanecendo ora trocando de par, indo ao centro, voltando à roda, dobrando os joelhos em inclinação, erguendo os braços em aclamação. E as bonecas, fosse pela correria, fosse por qualquer outra magia do avô, iam adquirindo o corpo de formosas donzelas que nos afagavam os cabelos e cobriam de beijos e carícias.» (idem, ibidem: 38). "
"A obra Meu Avô, Rei de Coisa Pouca, como o título faz prever, centra-se numa figura cujo retrato começa a desenhar-se, directa e indirectamente, logo na abertura da narrativa ou no incipit: «A casa da eira era o palácio do avô. Nela tinha o seu trono, guardava a sua coroa e retinha os seus tesouros. Na verdade, era apenas um espigueiro antigo de granito. Mas não era o palácio que o tornava rei, era a sua condição de senhor de terras e céus, bichos e chuvas, ventos e aragens, romãs e bonecas de trigo. (...) De aspecto, o avô nada tinha de parecido com um rei. Era um homem simples, afeito ao trabalho, que se dividia entre a metalurgia e a agricultura, alto, ombros largos, cara de anjo papudo, com sulcos que o tempo foi esgravatando, mãos enormes, pés firmes.» (Ribeiro, 2011: 9). A metáfora anunciada pelo título prolonga-se ao longo de todo o relato e inúmeras associações transfiguradoras do protagonista a um rei acompanham também identificações como, por exemplo, casa da eira-palácio ou bicicleta-cavalo alado. Estas associações estendem-se ao discurso visual da publicação, da autoria de Catarina Pinto, e este, composto a partir de uma técnica mista (recorte, colagem, fotografia, etc.), cria a ilusão de diferentes texturas e perspectivas. Logo desde a capa e contracapa (que formam uma unidade semântica e que, pela representação, não isenta de uma significativa carga simbólica, de uma árvore e do herói da narrativa determinam um especial «horizonte de expectativas»), passando pelas guardas da publicação, até às imagens do miolo do volume, as ilustrações dão conta do carácter maravilhoso de certos momentos diegéticos, da forte presença do elementos naturalistas, da profunda ligação afectiva entre as personagens e do tratamento de temáticas intemporais.
Dos títulos dos nove capítulos que compõem a obra – «O cavalo alado», «O tamanho do reino», «A romãzeira e a menina», «O baile das bonecas de trigo», «O amigo da bicharada», «O mapa dos segredos» «O rio da vida», «Os últimos dias» e «Os idos dias que hão-de vir» –, bem como das ilustrações em páginas duplas que antecedem cada um deles, sobrelevam alguns dos topoi e dos aspectos simbólicos mais importantes da narrativa e, se fosse imprescindível a identificação de um leitmotiv da obra, diria que este possui uma dupla acepção, partilhando o ser humano e a natureza (e o seus ciclos) o lugar central. Com efeito, o homem impregnado de natureza e a natureza espelho do homem (numa relação de simbiose, por vezes, de contornos telúricos) afiguram-se os pilares que sustentam quer a (re)construção ficcional do avô João, quer a própria arquitectura do espaço, nas suas dimensões física, psicológica e social.
O amor, que «serve para temperar todas as coisas» (idem, ibidem: 21), como se diz no texto, o amor aqui dado a conhecer em múltiplas vertentes – o amor do neto pelo avô, o amor do rei-avô pela sua rainha ou o amor à natureza, à terra-mãe ou «às coisas simples e pequenas» (idem, ibidem) –, releva da totalidade da obra, distinguindo-se como um dos eixos semânticos estruturantes da acção. O tom sentencioso e o carácter lapidar de certas expressões, mais recorrentes e evidentes à medida que a acção se aproxima do desenlace, denunciam uma especial atitude filosófica e existencial, em alguns momentos, muito próxima de correntes clássicas como o epicurismo – «A aceitação de que a vida é o que é, e assim é que é (...)» (idem, ibidem: 76) –, propondo-se, a cada instante, uma reflexão sobre a vida e a sua passagem, sobre a morte, sobre o tempo, sobre a memória, entre outros.
Referências histórico-culturais e literárias – estas últimas reflectidas, por vezes, na alusão a textos ou a partes de textos da literatura tradicional/oral) – perpassam toda a obra (Batalha de La Lys e a Primeira Guerra Mundial, Pégaso, a Bíblia, Federico Garcia Lorca, a ilha dos amores ou Alberto Caeiro), a par da presença significativa de vivências, costumes e hábitos do quotidiano rural (como, por exemplo, a desfolhada, motivo nuclear do capítulo intitulado «O baile das bonecas de trigo»), estimulam a leitura e promovem um convívio com uma cultura que reúne o universal e o local, o colectivo e o individual ou, ainda, o passado e o presente.
A criatividade da linguagem de João Manuel Ribeiro traduz-se, por exemplo, nas enumerações de elementos da natureza, descritos num registo que dá conta da visão sensorial do autor/narrador. Na verdade, a adjectivação abundante e as recorrentes metáforas contribuem para um descritivismo especial, que explora as potencialidades semânticas de um sensorialismo e/ou de um visualismo muito envolventes. Globalmente, Meu Avô Rei de Coisa Pouca caracteriza-se pela sua escrita bem ritmada – releia-se a afirmação «O ritmo que ponho em cada história que escrevo levanta-se de um baile com bonecas de trigo» (idem, ibidem: 76) –, com uma cadência própria, que desvela, com delicadeza e discrição, uma singular percepção do mundo, da vida, do eu e dos outros. Estas e outras características, que o espaço e o tempo desta intervenção não permitem questionar, mas que, no texto, surgem sintetizadas na expressão «jeito de tricotar paisagens com palavras e versos» (idem, ibidem: 76), podem ser comprovadas em excertos como o seguinte: «E deixei-me arrastar pelo corpo tenor de uma após outra boneca de trigo, que se agitavam agilmente, numa ronda de passos, gestos e sorrisos. E se a música nos acelerava, o rodopio era intenso, ao redor do corpo de cada boneca, ora permanecendo ora trocando de par, indo ao centro, voltando à roda, dobrando os joelhos em inclinação, erguendo os braços em aclamação. E as bonecas, fosse pela correria, fosse por qualquer outra magia do avô, iam adquirindo o corpo de formosas donzelas que nos afagavam os cabelos e cobriam de beijos e carícias.» (idem, ibidem: 38). "
[Sara Reis da Silva]
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
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