As
narrativas da literatura infantil podem e devem ser concebidas como verdadeiro
capital simbólico basilar no desenvol-vimento integral da pessoa humana.
Talvez
por isso, independentemente dos tempos economicamente controversos que se
atravessam, ainda se compram livros para crianças.
Foi
em Março de 2008 que a jovem editora Trinta Por Uma Linha (TPUL) deu à estampa o seu primeiro
livro: Rondel de Rimas para Meninos e
Meninas, escrito por João Manuel Ribeiro e ilustrado por Anabela Dias.
Curiosamente,
em conversa com João Manuel Ribeiro (JMR), editor e diretor artístico da
TPUL, soubemos que «as razões que deram início ao projeto foram de índole
pessoal». JMR é, entre muitos outros ofícios, escritor e, dada a dificuldade de
publicação no universo das editoras instituídas, tornou-se necessária a criação
de uma editora para a publicação dos seus próprios textos de LIJ.
Consequentemente, o perfil editorial deste projeto viu-se imediatamente moldado
por esta premissa: as primeiras aventuras no mercado editorial da TPUL foram
com escritores e ilustradores em início de carreira. Esta é uma característica
que continua a ser de presença constante, muito embora o projeto tenha sofrido
grandes alterações de escala e necessitado, por isso, de se
estender a autores já consagrados. A opção pela edição de autores portugueses é
também uma evidência que JMR assegura irá manter-se.
A
TPUL adotou desde cedo uma política de proximidade e preocupação com o leitor.
É disso prova o blogue http://editoratrintaporumalinha.blogspot.com/ que surgiu
associado ao nascimento do projeto e que «nos lleva
hacia un mundo interactivo, colorido y dinámico y presenta las obras y
acontecimientos alrededor de los libros en un ambiente acogedor y estimulante
al mismo tiempo» (Brouckaert, 2008). Nesse espaço da blogosfera foram escritas algumas palavras sobre o
projeto, que o situam e contextualizam, e que sublinham a sua consciência da importância
da Literatura para a Infância e Juventude (LIJ), que passamos a citar:
«A
editora Trinta por uma linha é um
novo projeto editorial [sedeado no Porto] (…) direcionado para a literatura
infanto-juvenil. Esta, pelas suas características particulares de comunicação e
de fruição estética pode desenvolver esses mesmos processos desde idades
precoces. Na verdade, este tipo de literatura tem potencialidades educativas em
termos cognitivos (como a escrita, a leitura e a compreensão), afetivos (como a
emoção e a fruição estética) e criativos em que se deve lucidamente apostar.
Queremos,
assim, através da edição de projetos literários de qualidade contribuir para a
educação literária (promovendo o gosto pela leitura), cultural (aliando
tradição e inovação) e estética (potenciando a emoção e a fruição).
Neste
contexto, privilegiaremos a edição de conteúdos escritos nas áreas da poesia,
do conto, da recriação da tradição oral aliados a conteúdos gráficos
(ilustração, fotografia, composição, etc.) de qualidade.»
Este
manifesto de intenções veio a confirmar-se a vários níveis. A criação de várias
coleções, cada uma com objetivos distintos, fazendo-se notar como
principal razão dessa distinção um público-alvo diversificado. Depois veja-se
como a imagem global da TPUL (conjugando as vertentes verbal e visual) foi
planeada com minúcia e cuidado particulares. A palavra de ordem é qualidade, a
preocupação com a qualidade literária dos textos, plástica das ilustrações, e
do design gráfico. A imagem comercial
da editora foi criada com a eficácia da simplicidade, o logótipo é legível e
facilmente identificável quando procuramos um livro escondido numa estante de
livraria. O mesmo se pode dizer do trabalho gráfico que distingue as coleções,
simples, leve e, acima de tudo, legível. É de salientar o respeito pelo
trabalho do ilustrador (algo ainda pouco comum mas que, felizmente, já começa a
aumentar) que se reflete não só na preocupação de escolha de um papel com mais
gramagem e melhores capacidades de reprodução de cor e linha, por considerar
importante aproximar a cor da versão impressa o mais possível à cor do
original, mas, principalmente, na confiança que lhe é depositada. Colaborando
com a TPUL o ilustrador tem total liberdade de interpretação da componente
verbal e é precisamente isso que lhe é exigido, a sua leitura interpretativa
individual e única, que necessita de tempo de maturação e que também esse é
concedido.
A vontade da editora de contribuir para a educação estética dos seus leitores
não passa só por acreditar no trabalho dos seus ilustradores. Com efeito foi
recentemente criado um «projeto despretensioso que quer facultar aos leitores das escolas e
bibliotecas o contacto com os originais (ou similares) das ilustrações dos
livros editados pela Trinta Por Uma Linha» a que chamou de Serviço Educativo de
Ilustração – SEI. Para a TPUL (assim como para nós) «"Ver" e "observar"
de perto os originais do trabalho de ilustração pode: constituir uma experiência
passível de colocar perguntas, gerar inquietações, provocar novas leituras e
despertar sentimentos novos; constituir uma ferramenta adequada para suscitar e
promover a educação literária e estética; promover a leitura escrita e visual e
estimular o contacto com autores do texto e da ilustração».
Outra das preocupações emergentes da TPUL é a formação de adultos tendo à
disposição atividades de mediação
leitora para pais e professores com «Saber Ler nas Entrelinhas» e encontros sobre
poesia para a infância e juventude com o intuito de contribuir para um maior e mais esclarecido
conhecimento do texto poético por parte dos professores, educadores e demais
mediadores intitulado «Toda a poesia é luminosa».
Cinco
anos volvidos e a TPUL conta com oito dezenas de
livros de LIJ publicados e um lugar de destaque no
panorama editorial nacional, pela qualidade literária, plástica e estética das
suas publicações.
A
corroborar o sucesso deste projeto e a sua implantação neste segmento de
mercado nacional estão as inúmeras recomendações pelo Plano Nacional de Leitura
e pela Casa da Leitura, assim como a distinção de uma das suas obras pelo
Prémio Nacional de Ilustração, destacando assim as publicações da TPUL das
demais.
Por todas estas razões, há que agradecer,
primeiramente, ao seu criador, João Manuel Ribeiro - por nos ter enchido as
estantes e o coração com qualidade e alma, não esquecendo todos os seus
colaboradores que tanto têm deliciado pequenos e graúdos.
Fazendo orgulhosamente parte desta equipa vencedora
aqui ficam os nossos sinceros parabéns e o desejo de que consigam perseverar
por muitos mais anos.
Gabriela Sotto Mayor
A Trinta por uma linha nasceu
juridicamente a 7 de Dezembro de 2007, embora o primeiro título da editora só
fosse publicado em Março de 2008.
JMR
comentou que embora tivesse previsto publicar 8 títulos por ano acabaram por
ser editados mais do dobro (18 livros no primeiro ano). «Neste momento, sinto
que o projeto se agigantou de tal maneira que temo e experimento já as
dificuldades na receção e análise dos manuscritos que chegam, na escolha dos
ilustradores e nas largas expetativas dos autores e leitores».
Rimas traquinas (coleção vocacionada, como o
nome sugere, para a poesia); Oito por um cordel (coleção direcionada para o
conto, num espectro alargado de destinatários, desde os mais novos aos mais
crescidos); Pim pam pum (coleção para os mais pequenos dos pequenos, onde se
privilegia a imagem criativa e sugestiva); Ditos (im)populares (coleção para
recriar e reinventar as tradições populares); Os livros do Rafa (coleção para
os adolescentes, idealizada e escrita por Fátima Pombo); Adolescentes.com (coleção
para adolescentes, com um leque alargado de géneros: narrativa, conto e
poesia); Trocado por miúdos (coleção destinada à publicação de trabalhos
literários de alunos de escolas, em parceria com escritor e/ou ilustrador); O
barulho dos segredos (coleção de contos (4 a 5 por livro) de João Manuel
Ribeiro); Extra (coleção de grande formato (A4) aberta a todos os géneros
literários); O lado B das histórias (coleção para adolescentes, idealizada e
escrita por Margarida Fonseca Santos, nomeadamente a saga "O reino de Petzet");
Fora dos eixos (coleção para publicar novelas para leitores autónomos);
Livro-Agenda (associando texto e ilustração a uma agenda (perpétua) - foi
exemplar único, não haverá mais); Memória de Elefante (coleção para editar
autores de LIJ não conhecidos, esquecidos (e já falecidos)); D'Aquém e D'Além (coleção
de lendas e histórias locais - portuguesas e estrangeiras, sobretudo africanas,
brasileiras e timorenses).