domingo, 9 de dezembro de 2012

5 ANOS A FAZER TRINTA POR UMA LINHA

As narrativas da literatura infantil podem e devem ser concebidas como verdadeiro capital simbólico basilar no desenvol-vimento integral da pessoa humana.
Talvez por isso, independentemente dos tempos economicamente controversos que se atravessam, ainda se compram livros para crianças.
Foi em Março de 2008 que a jovem editora Trinta Por Uma Linha (TPUL)[1] deu à estampa o seu primeiro livro: Rondel de Rimas para Meninos e Meninas, escrito por João Manuel Ribeiro e ilustrado por Anabela Dias.
Curiosamente, em conversa com João Manuel Ribeiro (JMR)[2], editor e diretor artístico da TPUL, soubemos que «as razões que deram início ao projeto foram de índole pessoal». JMR é, entre muitos outros ofícios, escritor e, dada a dificuldade de publicação no universo das editoras instituídas, tornou-se necessária a criação de uma editora para a publicação dos seus próprios textos de LIJ. Consequentemente, o perfil editorial deste projeto viu-se imediatamente moldado por esta premissa: as primeiras aventuras no mercado editorial da TPUL foram com escritores e ilustradores em início de carreira. Esta é uma característica que continua a ser de presença constante, muito embora o projeto tenha sofrido grandes alterações de escala[3] e necessitado, por isso, de se estender a autores já consagrados. A opção pela edição de autores portugueses é também uma evidência que JMR assegura irá manter-se.
A TPUL adotou desde cedo uma política de proximidade e preocupação com o leitor. É disso prova o blogue http://editoratrintaporumalinha.blogspot.com/ que surgiu associado ao nascimento do projeto e que «nos lleva hacia un mundo interactivo, colorido y dinámico y presenta las obras y acontecimientos alrededor de los libros en un ambiente acogedor y estimulante al mismo tiempo» (Brouckaert, 2008). Nesse espaço da blogosfera foram escritas algumas palavras sobre o projeto, que o situam e contextualizam, e que sublinham a sua consciência da importância da Literatura para a Infância e Juventude (LIJ), que passamos a citar:
«A editora Trinta por uma linha é um novo projeto editorial [sedeado no Porto] (…) direcionado para a literatura infanto-juvenil. Esta, pelas suas características particulares de comunicação e de fruição estética pode desenvolver esses mesmos processos desde idades precoces. Na verdade, este tipo de literatura tem potencialidades educativas em termos cognitivos (como a escrita, a leitura e a compreensão), afetivos (como a emoção e a fruição estética) e criativos em que se deve lucidamente apostar.
Queremos, assim, através da edição de projetos literários de qualidade contribuir para a educação literária (promovendo o gosto pela leitura), cultural (aliando tradição e inovação) e estética (potenciando a emoção e a fruição).
Neste contexto, privilegiaremos a edição de conteúdos escritos nas áreas da poesia, do conto, da recriação da tradição oral aliados a conteúdos gráficos (ilustração, fotografia, composição, etc.) de qualidade.»
Este manifesto de intenções veio a confirmar-se a vários níveis. A criação de várias coleções, cada uma com objetivos distintos[4], fazendo-se notar como principal razão dessa distinção um público-alvo diversificado. Depois veja-se como a imagem global da TPUL (conjugando as vertentes verbal e visual) foi planeada com minúcia e cuidado particulares. A palavra de ordem é qualidade, a preocupação com a qualidade literária dos textos, plástica das ilustrações, e do design gráfico. A imagem comercial da editora foi criada com a eficácia da simplicidade[5], o logótipo é legível e facilmente identificável quando procuramos um livro escondido numa estante de livraria. O mesmo se pode dizer do trabalho gráfico que distingue as coleções, simples, leve e, acima de tudo, legível. É de salientar o respeito pelo trabalho do ilustrador (algo ainda pouco comum mas que, felizmente, já começa a aumentar) que se reflete não só na preocupação de escolha de um papel com mais gramagem e melhores capacidades de reprodução de cor e linha, por considerar importante aproximar a cor da versão impressa o mais possível à cor do original, mas, principalmente, na confiança que lhe é depositada. Colaborando com a TPUL o ilustrador tem total liberdade de interpretação da componente verbal e é precisamente isso que lhe é exigido, a sua leitura interpretativa individual e única, que necessita de tempo de maturação e que também esse é concedido.
A vontade da editora de contribuir para a educação estética dos seus leitores não passa só por acreditar no trabalho dos seus ilustradores. Com efeito foi recentemente criado um «
projeto despretensioso que quer facultar aos leitores das escolas e bibliotecas o contacto com os originais (ou similares) das ilustrações dos livros editados pela Trinta Por Uma Linha» a que chamou de Serviço Educativo de Ilustração – SEI. Para a TPUL (assim como para nós) «"Ver" e "observar" de perto os originais do trabalho de ilustração pode: constituir uma experiência passível de colocar perguntas, gerar inquietações, provocar novas leituras e despertar sentimentos novos; constituir uma ferramenta adequada para suscitar e promover a educação literária e estética; promover a leitura escrita e visual e estimular o contacto com autores do texto e da ilustração».
Outra das preocupações emergentes da TPUL é a formação de adultos tendo à disposição  atividades de mediação leitora para pais e professores com «Saber Ler nas Entrelinhas» e encontros sobre poesia para a infância e juventude com o intuito de contribuir para um maior e mais esclarecido conhecimento do texto poético por parte dos professores, educadores e demais mediadores intitulado «Toda a poesia é luminosa».
Cinco anos volvidos e a TPUL conta com oito dezenas de livros de LIJ publicados[6] e um lugar de destaque no panorama editorial nacional, pela qualidade literária, plástica e estética das suas publicações.
A corroborar o sucesso deste projeto e a sua implantação neste segmento de mercado nacional estão as inúmeras recomendações pelo Plano Nacional de Leitura e pela Casa da Leitura, assim como a distinção de uma das suas obras pelo Prémio Nacional de Ilustração, destacando assim as publicações da TPUL das demais.
Por todas estas razões, há que agradecer, primeiramente, ao seu criador, João Manuel Ribeiro - por nos ter enchido as estantes e o coração com qualidade e alma, não esquecendo todos os seus colaboradores que tanto têm deliciado pequenos e graúdos.
Fazendo orgulhosamente parte desta equipa vencedora aqui ficam os nossos sinceros parabéns e o desejo de que consigam perseverar por muitos mais anos.
 
Gabriela Sotto Mayor


[1] A Trinta por uma linha nasceu juridicamente a 7 de Dezembro de 2007, embora o primeiro título da editora só fosse publicado em Março de 2008.
[2] João Manuel Ribeiro nasceu em 1968. Doutorado em Ciências da Educação sobre “A Poesia na Escola – Organização do Ensino e Compreensão da Literariedade”. Mestre em Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com dissertação sobre “A Poesia no 1.º Ciclo do Ensino Básico – Das Orientações Curriculares às Decisões Docentes”. Fez o Master em Libros y Literatura Infantil y Juvenil da Universitat Autónoma de Barcelona. Recentemente tem-se dedicado à escrita para crianças, acompanhando tal processo com um trabalho de dinamização da literatura em Escolas Básicas do 1.º Ciclo e colégios, quer através de oficinas de escrita criativa, quer através de encontros onde diz poesia. (Informação cedida pelo próprio).
[3]JMR comentou que embora tivesse previsto publicar 8 títulos por ano acabaram por ser editados mais do dobro (18 livros no primeiro ano). «Neste momento, sinto que o projeto se agigantou de tal maneira que temo e experimento já as dificuldades na receção e análise dos manuscritos que chegam, na escolha dos ilustradores e nas largas expetativas dos autores e leitores».
[4] Rimas traquinas (coleção vocacionada, como o nome sugere, para a poesia); Oito por um cordel (coleção direcionada para o conto, num espectro alargado de destinatários, desde os mais novos aos mais crescidos); Pim pam pum (coleção para os mais pequenos dos pequenos, onde se privilegia a imagem criativa e sugestiva); Ditos (im)populares (coleção para recriar e reinventar as tradições populares); Os livros do Rafa (coleção para os adolescentes, idealizada e escrita por Fátima Pombo); Adolescentes.com (coleção para adolescentes, com um leque alargado de géneros: narrativa, conto e poesia); Trocado por miúdos (coleção destinada à publicação de trabalhos literários de alunos de escolas, em parceria com escritor e/ou ilustrador); O barulho dos segredos (coleção de contos (4 a 5 por livro) de João Manuel Ribeiro); Extra (coleção de grande formato (A4) aberta a todos os géneros literários); O lado B das histórias (coleção para adolescentes, idealizada e escrita por Margarida Fonseca Santos, nomeadamente a saga "O reino de Petzet"); Fora dos eixos (coleção para publicar novelas para leitores autónomos); Livro-Agenda (associando texto e ilustração a uma agenda (perpétua) - foi exemplar único, não haverá mais); Memória de Elefante (coleção para editar autores de LIJ não conhecidos, esquecidos (e já falecidos)); D'Aquém e D'Além (coleção de lendas e histórias locais - portuguesas e estrangeiras, sobretudo africanas, brasileiras e timorenses).
[5] A designer e também ilustradora Anabela Dias é a responsável pela imagem gráfica da editora e pela maioria dos arranjos gráficos dos seus títulos. Para conhecer mais sobre o seu trabalho visite http://anabelailustradias.blogspot.com/
[6] No ano de 2008 a TPUL editou 18 livros; no ano de 2009 editou 16; no ano de 2010 foram 18 os livros editados; no ano de 2011 foram 19 e no ano de 2012 apenas 8 livros viajaram para as mãos dos leitores. Claramente, este decréscimo de publicações reflete a crise económica que o país atravessa.